Uma decisão da Anvisa vem impedindo as farmácias e drogarias de agregar novos serviços à população. Um ofício da agência impede os estabelecimentos de ministrar os exames rápidos conhecidos como testes laboratoriais remotos (TLR). A alegação é de que a RDC 44 permite a realização somente do teste de glicemia e a comercialização dos autotestes para detecção do HCG e anti-HIV. Portanto, qualquer exame fora dos citados estará em desacordo com a resolução.
Por outro lado, a Lei Federal 13.021/2014 define que a farmácia é uma unidade de prestação de serviços de assistência à saúde, e o Conselho Federal de Farmácia (CFF) estabelece que o farmacêutico possui competência para o exercício do cuidado ao paciente, incluindo ações de rastreamento em saúde, acompanhamento farmacoterapêutico, entre outras.
Não bastasse a proibição, as redes ainda convivem com a truculência da fiscalização. No início deste mês, os equipamentos utilizados nesses exames foram confiscados nas lojas da Drogaria São Bento no Mato Grosso do Sul. “Para completar, recebemos duas multas no valor de R$ 1.900 cada”, revela a superintendente Flavia Buainain. O uso do TLR pode ser determinante para aprimorar o acesso à saúde e a efetividade dos tratamentos. Exemplo disso é a Drogaria Araújo. Segundo dados de um estudo apresentado à Anvisa, no ano passado, uma das unidades da rede fez 1.912 testes rápidos, sendo que 27% dos pacientes foram encaminhados ao médico com resultados alterados.
Burocracia contra a tecnologia
Cassyano Correr, coordenador do Programa de Assistência Farmacêutica Avançada da Abrafarma, destaca que a promoção desses testes está baseada no avanço tecnológico e ocorre em conformidade com a RDC 302/2005. “Trata-se de um serviço que auxilia o médico no diagnóstico, contribui para detectar casos suspeitos com mais rapidez e possibilita o acompanhamento de doenças crônicas”, ressalta. Segundo a entidade, a Anvisa chegou a elaborar um projeto de modernização da RDC em julho de 2018, mas a nova presidência simplesmente não deu prosseguimento ao tema.
A própria agência esclarece que não faz restrições sobre quais locais o TLR pode ser usado, e que o mesmo pode ser realizado pelo profissional da saúde em consultórios, em empresas e até mesmo na casa do paciente. “É curioso notar como o TLR é permitido em praticamente qualquer lugar, menos na farmácia”, pontua Correr.
A expectativa do setor reside na Consulta Dirigida sobre Farmácias e Drogarias, lançada pela Anvisa para conhecer a demanda regulatória solicitada pelos representantes desse setor. A pesquisa, que deve ser respondida até 31 de julho pelas vigilâncias sanitárias locais, visa a aferir a realidade desses órgãos e sua relação com as normas vigentes sobre o tema. Com isso, pode ser uma fonte importante de informações para dimensionar o problema regulatório que as farmácias enfrentam.
Anvisa promove debate sobre teste laboratorial portátil
No próximo dia 1º de agosto, a Anvisa irá promover um Diálogo Setorial para obter informações, críticas e sugestões sobre a utilização de testes laboratoriais portáteis (TLPs) — do inglês point-of-care testing (POCT) — em serviços de saúde. Com a medida, a Agência espera orientar as próximas etapas da discussão sobre o aprimoramento do marco regulatório de serviços farmacêuticos e de laboratórios clínicos, relacionadas à revisão da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 44/2009 (Capítulo VI – Dos Serviços Farmacêuticos) e da RDC 302/2005, e que são temas da Agenda Regulatória 2017-2020 da Anvisa.
De acordo com a RDC 302/2005, que dispõe sobre o Regulamento Técnico para o funcionamento de laboratórios clínicos, o teste laboratorial remoto (TLR) ou teste laboratorial portátil é aquele realizado por meio de um equipamento laboratorial situado fisicamente fora da área de um laboratório clínico. Segundo a RDC 36/2015, entende-se por point-of-care testing (POCT) a testagem conduzida próximo ao local de cuidado ao paciente, inclusive em consultórios e locais fora da área técnica de um laboratório, por profissionais de saúde ou por pessoal capacitado pelo Ministério da Saúde e/ou secretarias estaduais e municipais de Saúde.
Evento
O Diálogo Setorial será realizado das 8h30 às 18h do dia 1º de agosto, no auditório da Anvisa, em Brasília (DF). Não é necessário confirmar participação, que está condicionada à lotação do auditório. O espaço tem capacidade para 240 pessoas. O evento terá transmissão on-line e o link será divulgado oportunamente.
Programação
8h30 – 8h45
Registro dos participantes
Cevec
8h45 – 9h
Abertura do evento
Guilherme Buss
(GGTES)
9h – 9h40
Apresentação sobre o registro de produtos point-of-care testing (RDC 36/2015)
Marcella Abreu
(Gevit/GGTPS)
9h40 – 10h20
Contexto sanitário I: Apresentação sobre a utilização do point-of-care testing em laboratórios clínicos (RDC 302/2005)
André Rezende
(Grecs/GGTES)
10h20 – 11h
Contexto sanitário II: Apresentação sobre a utilização do point-of-care testing em farmácias (RDC 44/2009)
Tatiana Jubé
(Grecs/GGTES)
11h – 11h40
Uso dos dispositivos point-of-care testing nos programas de saúde do governo (usos e controles)
Representante do
Ministério da Saúde
11h40 – 13h30
Intervalo para almoço
–
13h30 – 14h
Apresentação sobre o uso dos dispositivos point-of-care testing – fabricantes de produtos point-of-care testing
Representante da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial
14h – 14h30
Apresentação sobre o uso dos dispositivos point-of-care testing – laboratórios clínicos
Representante do setor de laboratórios clínicos
14h30 – 15h
Apresentação sobre o uso dos dispositivos point-of-care testing– farmácias
Representante do setor de farmácias
15h – 17h30
Discussão
–
17h30 – 18h
Considerações finais e encerramento
GGTES
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Na X Conferência Nacional de Educação Farmacêutica e do X Encontro Nacional de Coordenadores de Cursos de Farmácia, que teve início em 5 de junho, em Foz do Iguaçu (PR), e se estenderá até 7 de junho de 2019, o presidente do Conselho Federal de Farmácia (CFF), Walter Jorge João, afirmou, em seu discurso de abertura, que os professores universitários, como formadores de opinião, não estariam se empenhando na luta contra o ensino a distância (EaD) em Farmácia no Brasil. Ele afirmou que não tem visto os professores se posicionando publicamente contra isso.
O professor da Universidade Guarulhos e ex-presidente da Anvisa, Dr. Dirceu Raposo de Mello, que atualmente também é conselheiro do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP) discorda da opinião de Jorge João. Ele afirma que no CRF-SP existe uma comissão de ensino em que todos os professores que a compõem têm uma articulação muito forte com coordenadores de universidades públicas e privadas.
Essa comissão tem agido, na forma de moção, com inúmeras prefeituras, câmaras municipais, Assembleia Legislativa e com a base dos parlamentares que estão em Brasília. Segundo Raposo, em São Paulo, há mais de uma dezena de moções contra o curso EaD.
“Não sei de onde vem esse tipo de argumentação de que não estamos nos posicionando contra o EaD. No mínimo, isso mostra o desconhecimento com o que está acontecendo aqui em São Paulo, e que também deve estar acontecendo em várias regiões do País. Com certeza as manifestações aqui são contundentes e evidentes com relação a obstruir esse processo de EaD, que é absolutamente nefasto para qualquer profissão, e não seria diferente com a Farmácia”, dispara Raposo.
Outra docente que se manifestou sobre a declaração de Jorge João foi a farmacêutica responsável pelo Departamento de Farmácia da Universidade de São Paulo (USP), dra. Maria Aparecida Nicoletti: ”Acho que o presidente do CFF está equivocado porque as instituições públicas se manifestaram, sim. Na USP São Paulo o assunto foi para a Congregação e, obviamente, que fomos contra. A USP Ribeirão Preto também teve como pauta de Congregação, e lá também foram contrários”.
Ela afirma que a estrutura de uma universidade pública exige que as questões sejam discutidas e, posteriormente, a unidade se manifesta. Não é que cada um vai publicar sua opinião em nome da USP. “Isso podemos fazer nas redes sociais, onde nos responsabilizamos pelo nosso posicionamento. A instituição se posicionou, sim, contra o Curso de Farmácia em EaD”, dispara.
Maria Aparecida lembra que, mesmo nas redes sociais, um número muito grande de professores se manifestou dando sua opinião a respeito do assunto. Acontece que a quantidade de cursos de Farmácia de universidades públicas é irrisória frente às faculdades e universidades privadas. “As escolas privadas têm muito interesse no EaD em razão do custo ser extremamente baixo em relação à um curso presencial, e cuja grade curricular ter inúmeras disciplinas com um elevadíssimo número de aulas práticas (fator que encarece muito em termos de gastos). Portanto, a pressão das instituições privadas é enorme para a aprovação de Curso de Farmácia em modo EaD”, lamenta ela.
A professora lastima que a parte financeira se sobreponha à qualidade. “A USP se posicionou contrária ao curso de Farmácia em EaD. Lembrando que, nas públicas a manifestação se dá por meio do colegiado maior, que é a Congregação, como é o caso da faculdade de Farmácia da USP e das demais unidades pertencentes à universidade”, defende Maria Aparecida.
A abertura
Ainda na solenidade de abertura do evento, cujo tema é Inovar e Integrar para bem Formar, Jorge João continuou seu discurso fazendo um breve histórico de sua vida pessoal acadêmica e citou a aproximação do sistema CFF/CRF com as universidades e as novas atuações farmacêuticas, especialmente as atribuições clínicas.
Ele mencionou, ainda, a capacitação por meio do Programa de Suporte ao Cuidado Farmacêutico na Atenção à Saúde (ProFar), o desenvolvimento de programas de cuidados e atenção primária à saúde e a elaboração dos guias de práticas clínicas, com a participação de consultores.
O presidente do CFF mencionou o surgimento das novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), que estão pautadas na formação por competências, e não mais por disciplinas. No entanto, há poucas faculdades de Farmácia que já conseguiram implementar as novas DCN.
Continuando seu discurso, Jorge João citou a valorização e o reconhecimento internacional do farmacêutico, que será consagrado pela 79th FIP World Congress of Pharmacy and Pharmaceutical Sciences, em Abu Dhabi, em setembro deste ano.
Reiterando a informação que ele já havia divulgado na abertura da reunião plenária do CFF, realizada em maio desse ano, Jorge João ressaltou sua intenção de ofertar pós-graduação gratuita aos 220 mil farmacêuticos do Brasil.
Para finalizar, ele mencionou que ficou chocado com alguns ‘memes’ que são postados nas redes sociais, tais como: o farmacêutico antes da faculdade (um maltrapilho) e o farmacêutico depois da faculdade (pior ainda). Enquanto o médico depois da faculdade aparece como um milionário (em tempo: meme é uma expressão usada para informações que viralizam, sendo copiadas ou imitadas na rede, geralmente de cunho humorístico).
Palestras
Dando sequência à Conferência, foram realizadas mesas-redondas sobre as perspectivas educacionais contemporâneas; a formação, a prática docente e o estudante da atualidade; e a pesquisa no processo de formação na graduação.
Um das palestras ficou por conta do professor da Universidade de Brasília (UnB), Marcello Vieira Lasneaux, com o tema: O fim da escola tradicional e o ofício de ser professor.
Assim, Lasneaux fez um balanço sobre o papel do professor em sala de aula, enaltecendo as metodologias ativas para facilitar a aprendizagem. Para ele, o professor está em reposicionamento. Não perderá seu papel de especialista e muito menos sua importância no processo. Mas deverá compreender que não deve mais agir como juiz, transmissor de conhecimento ou censor. Ele passará de “Professor-Auleiro para o Professor-Feiticeiro”. A programação contou, ainda, com outras palestras e oficinas práticas.
Para encerrar o primeiro dia do evento, aconteceu o lançamento do livro Formação Farmacêutica no Brasil – uma compilação dos resultados de relatórios anuais da Comissão Assessora de Educação Farmacêutica do CFF.
De acordo com Ismael Rosa – Diretor Acadêmico do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, que participa da Conferência, o evento é interessante e sério. Estão reunidos docentes do Brasil inteiro, alguns alunos e gestores de instituições de ensino: “O foco está no conhecimento das metodologias ativas, a renovação e a inovação do professor em sala de aula, já que essas metodologias são o melhor caminho para um ensino de melhor qualidade para os farmacêuticos brasileiros”.
“Destaco também o complexo desafio da implantação das novas DCNs, o que, aparentemente, ainda não está ocorrendo na esmagadra maioria das faculdades de farmácia do Brasil. Neste evento deviram estar sendo discutidas as experiências exitosas da implantação das novas diretrizes, mas o que se vê é uma completa lacuna e desarmonia de entendimento entre docentes, gestores, estudantes e entidades”.
Ele afirma que, especialmente na área farmacêutica, as novas DCNs exigem desses profissionais conhecimento em nível de competência, que é um conjunto de situações que envolve conhecimento, habilidades, atitudes e valores. Sobre o evento, ele acrescenta: “As oficinas práticas aplicadas aqui estão sendo essenciais, com a apresentação de muitas ferramentas, a aplicação prática das metodologias ativas, principalmente por meio das tecnologias de informação, possibilitando interagir com maior eficiência e eficácia com os alunos”.
“Outro ponto bastante debatido no evento é: como um professor, seja ele mestre ou doutor, que pautou a sua carreira exclusivamente na academia, poderia ensinar os futuros farmacêuticos a atuarem com as devidas competênicas no mercado de trabalho, se os próprios docentes nunca aplicaram seu conhecimento acadêmico fora dos muros das universidades? É evidente que a aula tradicional, ministrada como se fosse o índice do livro, está fracassada há anos”.
Já para o professor do ICTQ e consultor técnico no Ministério da Saúde, Antônio Joaquim Bonfim, a X Conferência Nacional de Educação Farmacêutica tem propiciado aos professores presentes a reflexão sobre as práticas docentes, motivados pela necessidade de se adaptarem à realidade das novas DCN, que produzirão efeito direto no ensino de pós-graduação farmacêutica no Brasil, em médio e longo prazos.
“Frente às novas tecnologias e à tendência de aproximação dessas tecnologias com a sala de aula, as oficinas realizadas nos primeiros dias do evento buscaram contextualizar e capacitar os docentes aqui presentes a esta nova realidade”, relembra Bonfim.
Ele lamenta a baixa participação docente no evento, dada a importância dessa Conferência para os rumos da educação farmacêutica, considerando o grande número de cursos de graduação em Farmácia no País. “Além da distância, o preço de deslocamento até Foz do Iguaçu (PR) e a coincidência com o fim do semestre letivo na maioria das instituições talvez tenham sido os fatores para a baixa participação no evento”, finaliza ele.
Os fitoterápicos são medicamentos como todos os demais, porém, produzidos a partir de matéria vegetal. Segundo Lincoln Cardoso, farmacêutico e professor da pós-graduação em Farmácia Clínica e Serviços Farmacêuticos da Abrafarma, em parceria com o IBras, existem dois tipos – os comercializados como medicamentos e os suplementos para o cuidado da saúde. “Nas duas situações, o farmacêutico tem autorização para prescrever, desde que o problema de saúde seja considerado autolimitado, com baixa complicação e curto período de desenvolvimento, como a má digestão e a cefaleia em fase aguda e não crônica, por exemplo”, explica.
De acordo com o professor, o farmacêutico pode prescrever fitoterápicos nas farmácias e drogarias, mesmo que não sejam de manipulação, nas unidades com serviços clínicos e quando estão atuando em hospitais, ambulatórios e consultórios. “Basta estar de acordo com a legislação profissional e com as regras estabelecidas pela Vigilância Sanitárialocal”, afirma Cardoso. Ele ressalta, porém, que alguns fitoterápicos como a valeriana e a ginkgo biloba são de prescrição exclusiva de médicos. Um expressivo volume de prescrição desses medicamentos está concentrado nas farmácias de manipulação, em função da estrutura específica para a produção de itens personalizados e da possibilidade de combinação de diferentes extratos e matérias-primas. Em algumas drogarias, os fitoterápicos ainda são oferecidos de forma industrializada. Nos últimos dois anos, o mercado de fitoterápicos cresceu 15% ao ano. Os laboratórios vêm investindo no segmento e alguns mais tradicionais estão apostando também em submarcas. O Aché foi o primeiro a apresentar um medicamento fitoterápico próprio, o Acheflan, vendido sob prescrição médica. Lançado em 2005, após dez anos de pesquisa, o Acheflan foi o primeiro legitimamente brasileiro no mercado. Posteriormente, a farmacêutica investiu em novos produtos e criou uma divisão especializada em fitoterápicos. Já a Natulab vem focando na categoria de fitoterápicos sem receita. “O setor de fitoterápicos tem grande potencial de crescimento, mas ainda há muito a ser explorado. Acredito que, se conseguirmos aumentar o número de farmacêuticos capacitados para a prescrição, teremos um incremento de 8% no mercado, somado aos 15% de crescimento anual”, finaliza Cardoso.
A responsabilidade técnica pela farmácia é exclusiva do farmacêutico e é proibido o funcionamento de consultórios médicos dentro desses estabelecimentos. O alerta é Conselho Federal de Farmácia (CFF), que nesta sexta-feira, dia 17 de maio, oficiou à Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que notifique às Vigilâncias Sanitárias dos estados e municípios para que fiscalizem e coíbam a ocorrência dessas infrações.
O CFF também emitiu circular a todos os conselhos regionais que estejam atentos e colaborem com os órgãos de vigilância sanitária denunciando essa prática irregular, a exemplo do que já fazem em relação a outras irregularidades.
“Os conselhos de Farmácia não vão permitir a usurpação do âmbito de atuação dos farmacêuticos e muito menos que seja desrespeitada a autoridade técnica desses profissionais, que é assegurada por meio da Lei nº 13.021/14”, destacou o presidente do CFF, Walter Jorge João. Ele informou que buscará, também, o apoio do Conselho Federal de Medicina (CFF), visto que tal prática afeta igualmente à categoria médica.
As medidas estão sendo adotadas após o próprio dono de uma rede de farmácias postar um vídeo em redes sociais onde informa que uma médica cubana contratada de uma de suas unidades estaria prestando atendimento aos pacientes, apesar de o estabelecimento contar com duas farmacêuticas.
A atuação clínica dos médicos cubanos dentro das farmácias infringe uma série de normas, entre as quais as leis federais nº 5.991/73 e 13.021/14, além dos Códigos de Ética Farmacêutica e de Ética Médica.
É importante lembrar que os médicos cubanos não podem atuar como médicos fora do SUS sem se submeterem ao Revalida, exame exigido no Brasil para o registro de diplomas médicos emitidos por instituições de ensino estrangeiras. Portanto, dizer que a farmácia conta com um médico para atender seus pacientes configura, ainda, propaganda enganosa, conforme previsto no Código de Defesa do Consumidor.
Automedicação ocorre mesmo com medicamentos prescritos. Mais da metade dos entrevistados altera a dose prescrita, revela pesquisa do CFF e Datafolha
Pesquisa aponta que 77% dos brasileiros têm o hábito de se automedicar
Uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), por meio do Instituto Datafolha, constatou que a automedicação é um hábito comum a 77% dos brasileiros que fizeram uso de medicamentos nos últimos seis meses. Quase metade (47%) se automedica pelo menos uma vez por mês, e um quarto (25%) o faz todo dia ou pelo menos uma vez por semana. Inédita na história dos conselhos de Farmácia, a pesquisa investigou o comportamento dos brasileiros em relação à compra e ao uso de medicamentos, e servirá para subsidiar uma campanha nacional de conscientização, em comemoração ao dia 5 de maio, o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos.
O estudo detectou ainda uma modalidade diferente de automedicação, a partir de medicamentos prescritos. Nesse caso, a pessoa passou pelo profissional da saúde, tem um diagnóstico, recebeu uma receita, mas não usa o medicamento conforme orientado, alterando a dose receitada. Esse comportamento foi relatado pela maioria dos entrevistados (57%), especialmente homens (60%) e jovens de 16 a 24 anos (69%). A principal alteração na posologia foi a redução da dose de pelo menos um dos medicamentos prescritos (37%). O principal motivo alegado foi a sensação de que “o medicamento fez mal” ou “a doença já estava controlada”. Para 17%, o motivo que justificou a atitude foi o custo do medicamento – “ele é muito caro”.
Também foi observado que 22% dos entrevistados que utilizaram medicamentos nos últimos seis meses tiveram dúvidas, mesmo em relação aos medicamentos prescritos, principalmente no que diz respeito à dose (volume e tempo) e a alguma contraindicação contida na bula. O mais grave é que cerca de um terço dos entrevistados não procurou esclarecer as dúvidas e, desses, a maioria parou de usar o medicamento. Depois do médico, a internet e a bula são as principais fontes de informação para sanar dúvidas relacionadas ao uso de medicamentos. Os farmacêuticos (que prescreveram ou dispensaram o medicamento) foram a quarta fonte mais consultada, tendo sido citados por 6% dos entrevistados.
Ainda em relação ao uso de medicamentos sem prescrição, a frequência da automedicação é maior entre o público feminino. Mais da metade das entrevistadas (53%) informou utilizar medicamento por conta própria, pelo menos uma vez ao mês. Os mais conscientes em relação à importância de se orientar com um profissional da saúde antes de usar qualquer medicamento são os moradores da Região Sul, onde 29% dos entrevistados declaram não utilizar medicamentos por conta própria, sem prescrição. A maioria das pessoas entrevistadas afirmou que se automedica quando já usou o mesmo medicamento antes (61%). A facilidade de acesso ao medicamento foi outro fator determinante, principalmente entre o público jovem, de 16 a 24 anos (70%).
Familiares, amigos e vizinhos foram citados como os principais influenciadores na escolha dos medicamentos usados sem prescrição nos últimos seis meses (25%), embora 21% dos entrevistados tenham citado as farmácias como a segunda fonte de informação e indicação.
Para o presidente do CRF-SP, Dr. Marcos Machado, a pesquisa dimensiona a gravidade de um problema que já era de conhecimento de todos, a automedicação dos brasileiros. “Não é por acaso que os medicamentos surgem como uma das principais causas de intoxicação no país. É uma cultura que necessita mudar. A população precisa ser orientada que medicamento não é um produto qualquer, seu uso implica em riscos à saúde”.
“Se o medicamento for isento de prescrição ou se a pessoa tem alguma dúvida sobre o uso de medicamentos, o farmacêutico pode e deve ser consultado. Ele é o profissional de saúde mais acessível à população e tem o conhecimento adequado para orientar sobre o uso correto dos medicamentos”.
Medicamentos mais usados – Por meio da pesquisa foram identificados, também, os medicamentos mais utilizados pelos brasileiros nos últimos seis meses. É surpreendente o alto índice de utilização de antibióticos (42%), somente superado pelo porcentual declarado para analgésicos e antitérmicos (50%). Em terceiro lugar ficaram os relaxantes musculares (24%). O uso de antibióticos foi maior nas regiões Centro-Oeste e Norte (50%). Os medicamentos utilizados nos últimos seis meses com prescrição, em sua maioria, foram indicados pelos médicos (69%), mas a prescrição farmacêutica, regulada pelo Conselho Federal da Farmácia (CFF) em 2013, pela Resolução CFF n° 586/2013, foi citada por 5% dos entrevistados.
Aquisição dos medicamentos – A maioria dos brasileiros (88%) compra os medicamentos que utiliza, sendo que 30% consegue esses produtos na rede pública/SUS. Outras maneiras citadas foram o uso de amostras grátis ou doações. A obtenção de medicamentos na rede pública/SUS é maior entre pessoas com mais de 60 anos (50%) e entre moradores da Região Sul (41%). Com exceção dos medicamentos para diabetes (insulina, hipoglicemiantes orais), é mais comum a compra dos demais.
Descarte – A pesquisa apurou também qual é a forma mais usual de descarte dos medicamentos que sobram ou vencem, e 76% dos entrevistados indicaram maneiras incorretas para a destinação final desses resíduos. Pelos resultados da pesquisa, a maioria da população descarta sobras de medicamentos ou medicamentos vencidos no lixo comum. Quase 10% afirmaram que jogam os restos no esgoto doméstico (pias, vasos sanitários e tanque).
Metodologia – A pesquisa quantitativa foi realizada com a população brasileira a partir de 16 anos de idade e que utilizou medicamentos nos últimos seis meses. A coleta de dados foi feita pelo Datafolha, entre os dias 13 e 20 de março de 2019. Com uma amostra de 2.311 pessoas, o estudo teve abrangência nacional, incluindo capitais/regiões metropolitanas e cidades do interior, de diferentes portes, em todas as regiões do Brasil. O nível de confiança da pesquisa é de 95%.
Campanha – Com o tema ‘Saúde não é jogo’, a campanha nacional de conscientização pelo uso racional de medicamentos está sendo realizada pelo Conselho Federal de Farmácia e os 27 conselhos regionais vinculados ao Sistema CFF/CRFs, em alusão ao Dia Nacional pelo Uso Racional de Medicamentos, comemorado no dia 5 de maio. Com uma linguagem acessível, a campanha chama a atenção da população para que não se arrisque jogando o jogo da automedicação. A orientação é que ao usar qualquer medicamento, a pessoa consulte sempre um farmacêutico. A veiculação das peças será principalmente por meio da internet/mídias digitais.
Departamento de Comunicação CRF-SP (com informações CFF)